Editorial

Autores

  • Sandra Helena Dias de Melo

Resumo

Edições de periódicos acadêmicos, como esta, com temática livre, sem a proposição inicial de um dossiê específico, supõem a priori a recepção de uma variedade de temas veiculados nos artigos que não necessariamente vão estabelecer um diálogo direto entre si que vá além da grande área das Letras e suas interfaces. Os artigos da 24ª edição da Encontros de Vista, no entanto, contrariam essa expectativa. Os cinco artigos que a compõem, ao trazer para o debatepontos de vista de diferentes países (em especial, além do Brasil, Angola, Chile, Porto Rico e México), ressaltam dois elementos fundamentais que acabam por constituir um eixo comum: a oralidade e as tradições populares e cotidianas. Em todos os textos, veremos como seus autores dialogam a partir desses temas nodais; identificamos como o recurso à reflexão sobre a oralidade se une às tradições ancestrais, originárias, populares e atuais, que perpassam práticas discursivas cotidianas e, direta ou lateralmente, dialogam com diferentes traços de colonialidade. No artigo La Historia de Latinoamérica según análisis comparativo a la obra “Vienen por las islas (1493)" de Pablo Neruda y “Latinoamérica” de Calle 13, de Jayne Lira e Iaranda Barbosa, traça-se, pelo viés cravado no colonialismo e colonialidade, uma linha temporal tênue, em que se percebe o passado e o presente de exploração, alicerçados numa ação violenta e covarde. Na análise, cujo objetivo central passa pela comparação das obras, percebem-se formas de resistência de um povo que se reinventa e resiste. Jesus e Paes, em O romance histórico Parábola do Cágado Velho: o tempo e o espaço na criação de Pepetela, analisam a dimensão ficcional dessa narrativa histórica. Para tanto, exploram o romance e a capacidade de Pepetela realizar na ficção aquilo que defendia: a busca do traço da oralidade na escrita, como identidade da cultura do povo angolano, tão explorado pela fome e pela guerra trazida pela colonização portuguesa. Em ambos os artigos, percebe-se o esperançar freiriano, pois o “mundo não é, o mundo está sendo”. Resistências de diferentes formas surgem e se insurgem sendo mostradas no fazer literário. Já em Costumbrismo mexicano en "El Huésped", de Amparo Dávila: retratos de una sociedad patriarcal y misógina, Vieira e Barbosa trazem, como objetivo, a reflexão sobre misoginia e machismo na sociedade representada em na emblemática obra da autora mexicana. Descortinando o patriarcalismo nessas cenas locais do cotidiano, as autoras apresentam uma discussão crítica sobre a rememorização dos costumes e da estrutura social a partir do estudo da da referida obra. Objetivando a proposição de uma sequência didática, Vieira e Gomes, em Tradição discursiva e historicidade do gênero textual: cartas de leitor na sala de aula¸ discorrem sobre como desenvolver uma discussão ampla no ensino a partir de cartas de leitor do passado e do presente. Em uma perspectiva inovadora no que tange ao ensino de língua portuguesa no Brasil, as autoras apresentam uma discussão de como explorar em sala de aula cartas opinativas de diferentes épocas, provocando no alunado uma experiência formativa do estudo do gênero textual não só histórica, mas histórica enquanto processual e dinâmica. No artigo A concordância nominal de gênero na língua falada de estudantes caboverdianos da UNILAB-CE, Silva e Silva discutem, sob a perspectiva teórica da sociolinguística variacionista, o uso da concordância nominal de gênero considerando o contato linguístico entre crioulo caboverdiano e o português. Os resultados da pesquisa apontaram que a regra de concordância de gênero é semicategórica, sendo o princípio da aliência atuante nos dados com a variante não-padrão. Também se percebeu que entre o grupo das estudantes informantes usase mais a variante padrão, apresentando a variante não-padrão estudantes com menos tempo de permanência no Brasil. Agradecemos a todos os autores e pareceristas que enviaram suas contribuições para a Encontros de Vista e tornaram essa comunicação possível. Desejamos a todos os leitores da Encontros de Vista um excelente diálogo com os artigos da 24ª edição.

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Publicado

2021-02-05

Como Citar

Dias de Melo, S. H. . (2021). Editorial. Encontros De Vista, 24(2), 1–2. Recuperado de https://journals.ufrpe.br/index.php/encontrosdevista/article/view/4144

Edição

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