SOBRE A FICÇÃO FEMININA DA DIÁSPORA NEGRA: UMA ESCRITA QUE OSCILA ENTRE A ORDEM E O CAOS

Autores

  • Sueli Meira Meira Liebig UEPB

Palavras-chave:

Nietzsche, Filosofia, Memória autobiográfica, Mulher negra, Apolo e Dionísio

Resumo

Este artigo pretende demonstrar, através do estudo de quatro obras das literaturas afro-brasileira e afro-americana de memória autobiográfica, a aplicabilidade da teoria desenvolvida por Friedrich Nietzsche acerca do comportamento humano (aqui restrito às mulheres negras) face às suas reações, ao preconceito e à discriminação da sociedade dominante. Como produto do realismo urbano, a ficção negra da diáspora sugere decepcionantes experiências afrodescendentes no bojo da sociedade. Todavia, quando se trata da literatura feita por mulheres, percebe-se quase que invariavelmente uma tendência para a tragédia, cuja essência é irreparável, não só do ponto de vista da protagonista, como também do da realidade objetiva, que lhe acrescenta um preconceito adicional, o de gênero. Essas visões trágicas fazem com que as percepções das heroínas tornem-se destrutivas da unidade dentro do mundo moral e ameacem aniquilar o balanço entre os impulsos dos deuses Apolo e Dionísio, unidos pela tragédia. Buscando suporte na teoria nietzschiana, tomamos como parâmetro as figuras de Apolo e Dionísio, que segundo o filósofo, representam respectivamente a cultura e a contracultura.  Este arcabouço teórico serve para desenvolver o argumento de que tal qual Apolo e Dionísio, as mulheres de modo geral e particularmente as mulheres negras, pela tripla subalternidade de gênero, raça e classe, tendem a ser efetivamente relacionadas a um ou a outro deus, dependendo da maneira como reagem à sua condição social. Para tanto, analisamos um corpus constituído pelo romance autobiográfico Diário de Bitita (1986), de Carolina Maria de Jesus, pelo conto igualmente autobiográfico “To Da Duh, in memoriam” (1967), da afro-americana de origem antilhana Paule Marshall, pelo romance The Bluest Eye (1970), da estadunidense Toni Morrison e “Duzu Querença” (1993), conto da afro-brasileira Conceição Evaristo, no intuito de demonstrar como as obras destas escritoras se encaixam dentro da filosofia nietzschiana quando se trata do modo como suas personagens reagem frente ao racismo, ao sexismo e à opressão impostos às mulheres negras onde quer que estes percalços se evidenciem.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

EVARISTO, C. Duzu Querença. In: Cadernos Negros, 16. São Paulo: Edição dos autores, 1993.

FANON, F. Pele Negra, Máscaras Brancas. Trad. Renato da Silveira. Salvador: EDUFBA, 2008.

FONTENOTE, Jr. C. J. Black Fiction: Apollo or Dionysus?. In: Mc BRIEN, W. Twentieth Century Literature: A Scholarly and Critical Journal. VoI. 25, n.1. New York: Hofstra UP, Spring, 1979 (p.73-84).

GATES, Jr. H. L.; McKAY, N. (Eds). The Norton Anthology of African American Literature. New York: W.W. Norton & Co., 1997.

JESUS, C. M. Diário de Bitita. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

MORRISON, T. The Bluest Eye. New York: Plume, 1994.

NIETZSCHE, F. O Nascimento da Tragédia. Ed. de Bolso. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

Downloads

Publicado

2017-06-26

Como Citar

Liebig, S. M. M. (2017). SOBRE A FICÇÃO FEMININA DA DIÁSPORA NEGRA: UMA ESCRITA QUE OSCILA ENTRE A ORDEM E O CAOS. Entheoria: Cadernos De Letras E Humanas, 3(1), 18–28. Recuperado de https://journals.ufrpe.br/index.php/entheoria/article/view/1422

Edição

Seção

ARTIGOS