Marcas da oralidade da tradição discursiva 'anúncios de fuga de escravos' dos jornais do Recife do século XIX
Palavras-chave:
anúncio de fuga, escravos, jornais, tradições discursivasResumo
Este trabalho visa a apresentar as marcas da oralidade dos anúncios de fuga de escravos dos jornais do Recife do século XIX. A fala e a escrita têm fortes vinculações com a cultura de um povo, por serem dois importantes canais de veiculação da cultura de uma dada sociedade e na difusão de certas Tradições Discursivas (TDs). Na sociedade brasileira do século XIX, as práticas de letramento eram escassas, na ausência da difusão do saber formal, tais como a escola, a rede de tradições orais era muito densa e funcionava como fator decisivo na preservação da memória cultural dos grupos. Nesse sentido, a história da língua portuguesa, no Brasil, está fortemente relacionada à oralidade. Mesmo que a tradição gramatical ocidental tenha valorizado muito mais a escrita, são as práticas orais que permearam as relações sociais durante séculos no país. O arcabouço teórico-metodológico para esta investigação está ancorado em Oesterreicher (1994, 2006), Stoll (1996) Marcuschi (2010) e Pessoa (2010). As análises foram empreendidas em três níveis: no pragmático, sintático e semântico, as quais apontaram que os anúncios de fuga de escravos são textos realizados graficamente, mas marcados concepcionalmente pela linguagem do imediatez comunicativa, sendo denominados por Oesterreicher (1994) de la competéncia escrita de impronta oral. Os resultados revelaram que os anúncios são textos cheios de desvios que afetam a organização sintática, períodos anacolúticos, uso frequente de palavras passe-partout ou omnibus e com digressões e añadidos que são características fortemente presentes na oralidade.Downloads
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