VOCABULÁRIO CONTROLADO EM RITUAIS KAINGANG
UMA CONSTRUÇÃO INSTRUMENTAL PARA ENFRENTAR A VIOLÊNCIA LIGUÍSTICA E EPISTÊMICA NO SUL DO BRASIL
Palavras-chave:
Kaingang, Rituais Kaingang, Vocabulário controlado, Organização do conhecimento, Decolonialidade, Violência epistêmicaResumo
Um dos povos originários que habitam a região sul e sudeste do país é o povo Kaingang, cuja língua pertence à família Jê, integrada ao tronco linguístico Macro-Jê. O povo Kaingang é o terceiro povo indígena mais populoso do Brasil. Este artigo tem por objetivo apresentar o desenvolvimento conceitual-terminológico de um vocabulário controlado bilíngue (Kaingang-Português) específico na área de rituais Kaingang. Os vocabulários controlados são Sistemas de Organização do Conhecimento (SOCs) que atuam em ambientes informacionais (tradicionais ou digitais) e operam como instrumentos capazes de representar e recuperar informações advindas de conhecimentos específicos. Para tanto, apoiamo-nos teórica e instrumentalmente na área da Organização do Conhecimento, especificamente no princípio categorial definido por Ranganathan, assim como na criação de categorias propostas a partir do próprio conhecimento Kaingang. Buscamos compreensão linguística e cultural a respeito dos rituais Kaingang respaldados por pesquisadores Kaingang e não-Kaingang que atuam nas áreas da Educação Intercultural Indígena, História, Antropologia e Pedagogia. Defendemos que a construção de vocabulários controlados voltados aos conhecimentos indígenas pode contribuir para a visibilização e disseminação desses conhecimentos e ajudar a enfrentar os apagamentos epistêmico e linguístico que assolam nossas culturas originárias.Downloads
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